terça-feira, 7 de outubro de 2008

Anomalias e alienações sociais

Assusta-me ver que notícias relacionadas a assalto, furto ou roubo estão gradativamente tornando-se informações corriqueiras para o cidadão de bem. Mais pasmo fico quando agregado à notícia de um assalto está a informação de que uma vida humana foi ceifada pelo instinto selvagem de um drogado, cego pela conquista do objeto que lhe propiciará mais uma “cheirada”. Mesmo estas parecem não produzir mais nenhum efeito, sendo processadas pelo leitor, ouvinte, internauta ou telespectador como acontecimentos naturais.

Assaltos, furtos, roubos – seguidos de morte ou não – são anomalias que devem ser combatidas e desentranhadas da sociedade tal qual fazemos com a gripe. Quando estamos gripados, corremos à farmácia mais próxima. Fazemos isso porque o nosso organismo nos envia, através de sinais físicos, um recado de que algo está afetando o seu funcionamento. Fazemos isso porque a gripe é um vírus, uma anomalia orgânica, então a combatemos com analgésicos para extirpá-la de nossa matéria.

Usualmente agimos com a mesma determinação no combate a uma anomalia quando nosso automóvel começa a dar solavancos, sinalizando-nos de que os caninhos que bombeiam combustível do tanque para o carburador estão sujos, por exemplo. Imediatamente então empreendemos nosso tempo e investimos nosso dinheiro para fazer o mesmo regressar ao seu estado normal.

Mas se sabemos identificar tão bem quando algo ou alguma coisa está fora de seu estado normal, por que então insistimos em ignorar as anomalias sociais? Para este blogueiro, a resposta é bem simples: egoísmo. Estamos tão preocupados com o nosso progresso, com o futuro, com a nossa saúde, com o nosso emprego, com a nossa segurança, com o nosso conforto, com as nossas contas, com as nossas angústias, COM O QUE OS OUTROS ESTÃO FALANDO DE NÓS, que não nos sobra a menor disposição para refletir sobre questões coletivas.

Mas a culpa não é 100% nossa, pois valores sociais nunca nos foram ensinados na escola. Quanto a nossos pais? Coitados, ninguém pode dar aquilo que não tem. São tão vítimas desta cultura individualista implantada por capitalistas vorazes quanto nós.

O desejo dos poderosos, caro leitor, é que nós continuemos ignorando a dor e o sofrimento alheios, que continuemos a pensar somente no ‘EU’ e no ‘TENHO’ e nunca no ‘NÓS’ e no ‘SOU’. Pois assim eles – que vivem numa realidade muito distante da nossa – continuarão seguros, abastados e saudáveis no pico de suas mansões repletas de cães ferozes e de robozinhos de humanos robustos para a sua defesa. Enquanto nós, que achamos estarmos fazendo grande coisa cuidando de nossos próprios narizes, estaremos pouco a pouco sendo dizimados pela borra social produzida pelo nosso próprio egoísmo e apego demasiado ao dinheiro.

Não estou sugerindo que acabemos com os ricos, que os extirpemos da sociedade, não! Jamais proporia a morte de alguém. Apenas estou propondo que reflitamos sobre soluções para causas coletivas, como o caos da segurança pública, a precariedade do Sistema Único de Saúde, as agressões contra o meio-ambiente, o tráfico, a corrupção, os mendigos. O fato de termos sido instruídos para a alienação social, para baixarmos a cabeça perante toda sorte de atrocidades e injustiças, não significa que tenhamos de morrer alienados. Nós podemos evoluir, nós podemos MUDAR O MUNDO! Se na Idade da Pedra os nossos ancestrais conseguiram, evoluindo da condição de Australopithecus para a condição de Homo Sapiens, por que nós – com muito maiores recursos – não haveríamos de evoluir?

Enquanto você está preocupado com coisas banais de sua vida pessoal há pessoas passando fome, carecendo urgentemente de cuidados médicos, gente sendo assaltada e assassinada (pessoas estas, aliás, que você mal passará os olhos para ver o nome, no jornal de amanhã). Se você está se sentindo mal, acorde para a vida, meeeennnnnnn!!!!! Demorou...

Não seja um alienado, exerça sua cidadania. NÓS precisamos de você!

Um comentário:

  1. Eu acho que a gente se acostumou mesmo com a alienação. Falta uma cultura do "nós", o pensar no coletivo. Se as escolas retomarem aulas de filosofia, política, os jovens aprenderão a pensar.

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