sábado, 26 de julho de 2008

O Tempo


O segredo do tempo é consumi-lo sem percebê-lo.

É fingir-se infinito para não o vermos passar.

É fazer-se contar em anos em vez de momentos.

Relógio, despertador, cronômetro, calendário

Tudo engodo para imaginarmos prendê-lo, controlá-lo.

Ampulheta, único instrumento sincero do tempo

Regressivamente, nos impõe a gravidade

De haver realmente um último grão

Riscando na areia a nossa fragilidade

Mas o tempo é imparcial

Não distingue rico de pobre,
Preto de branco, homem de mulher

Devora-se sem escolhas

Matar o tempo é matar-se sem sentido

Perdê-lo é viver em vão

Faz-se devagar nos maus momentos

Depressa quando o queremos

Ponteiro invisível da vida

Peça necessária do fim

A sua fome é insaciável

A sua vontade é determinante

A sua procura é unânime

Se esconde nas sombras que se movem

Nos objetos que não mais servem

Nas pessoas que nunca mais vimos

Na podridão das frutas que não foram colhidas

Nas lembranças já esquecidas

Revela-se nas fotos que se desbotam

Nas cartas que amarelam

Nas crianças que crescem

Nas rugas que aparecem

Deixa-nos a esperança de Pandora

Nas ações dos que virão

No nascimento dos rebentos

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