sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Mal súbito causa tragédia no Centro da Capital

Ontem, quinta-feira, fui surpreendido negativamente quando tomei conhecimento pelo rádio da tragédia envolvendo um ônibus da empresa Transcal que, ao chocar-se violenta e desgovernadamente contra um prédio - localizado na divisa entre as avenidas Júlio de Castilhos e Vicente da Fontoura, no Centro de Porto Alegre - incendiou e matou duas pessoas.

Notícias como esta sempre nos fazem mal, até porque nos leva a experimentar o sabor amargo da máxima popular que diz que 'para morrer, basta estar vivo'. A mim, entretanto, o fato que deu origem à essa tragédia me causou um mal-estar particular.

É que desde a minha infância, quando não passava de um piá, o receio de que o motorista do ônibus pudesse ter um ataque cardíaco me atormentava deveras. Principalmente porque no bairro onde moro passa a linha Cruzeiro, que para chegar ao coração do Centro de Porto Alegre passa antes pelo Viaduto da Conceição. Lembro como se fosse ontem, que sempre quando o trecho do viaduto se aproximava eu me segurava nos ferros do banco da frente, abaixava a cabeça, fechava os olhos e começava a rezar. Para mim, estar no meio daquele turbilhão hostil de automóveis e buzinassos, somado ao fato de que toda aquela balbúrdia se dava naturalmente - primeiro abaixo de um túnel escuro e após sobre uma ponte altíssima - me levava a experimentar uma sensação de adrenalina indescritível, como se estivesse dentro de um Kamikase.

"E se esse motorista tiver um ataque cardíaco, uma síncope, o que a gente faz, mãe? O cobrador assume o comando do ônibus, será?", perguntava preocupado a minha mãe que ria e me dizia para deixar de ser bobo.

Pois ontem, anos e anos depois, este que foi um dos piores medos da minha infância se tornou real e me fez sentir culpado. Já havia ouvido os mais diversos motivos para acidentes envolvendo coletivos: falha mecânica, ultrapassagem imprudente, sono, embriaguez, mas por mal súbito foi a primeiríssima vez. Logo pelo motivo mais remoto, que pensava ser produto da minha inesgotável imaginação infantil, essa tragédia aconteceu.

Muitos estudiosos da mente humana pressagiam que tudo o que acreditares, que todas as imagens que estiverem gravadas no seu subconsciente se realizam. Muita energia mental eu acalentei em minha infância de que uma fatalidade como esta pudesse acontecer. E hoje, inconformado, me arrependo amargamente por ter sido tão idiota a ponto de considerar a hipótese de um acidente tão cruel e injusto.

Que esta tragédia ao menos sirva de alerta à população e ao poder público para que se informem sobre às condições de trabalho a que são expostos a tripulação dos coletivos. Se recebem acompanhamento médico, psicológico, enfim, se é dada a devida atenção à saúde desses trabalhadores, a quem entregamos nossas vidas diariamente ao embarcarmos nos ônibus.

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